Morar no exterior: ‘Quem não se adapta está morto’
Sempre acreditei em um movimento contínuo, uma coisa que nunca para de ir, em diversas direções… Isso acontece nos átomos, com nosso sangue seguindo seu caminho pelo coração, com a terra, com o universo e com toda forma de vida.
Jamais consegui parar. Saí de casa com 15 anos e, nessa época eu já tinha um objetivo. Queria trabalhar viajando! Até conseguir, viajei muito para entender se eu queria mesmo isso. Com essa idade também queria ir para o espaço. Viagem infinita, universo sem fim…
Créditos: Arquivo pessoal
Depois de algum tempo, alcancei este objetivo e há 15 anos trabalho viajando. Amo. Não consigo mais largar. Me torna vivo. Quarenta e cinco países. Visitados, no mínimo dez vezes cada… Alguns, mais que 30.
Cada partida, cada despedida eu escuto da minha filha: “você vai voltar?” Por muito tempo sempre disse sim. Hoje respondo: eu quero. Nunca sei se a próxima viagem vai ser para sempre.
Créditos: Arquivo pessoal
Cada despedida é um nascimento. Uma energia que me coloca para frente e me faz querer continuar seguindo, se possível voltando sempre pelo caminho mais longo. Tom Waits escreveu muito bem: “I will always take the long way home”.
Um amor. Um filho. Uma casa. Uma vista. Uma razão! Um lugar que se tenha como prumo, e que te faça amar, entender e aceitar o movimento. Saber que existe um local onde se pode sempre chegar, é uma satisfação. Esse sempre foi meu sentimento nas partidas. Seguir sempre em direção ao próximo objetivo. Não ter um prumo, te faz andar em círculos, você fica perdido.
Créditos: Arquivo pessoal
Há algum tempo tive a oportunidade que sempre busquei: poder morar em outro país, e mais: deixaram escolher onde. Tinha o globo na minha mão. Uma vez mais, viajei um monte para poder saber onde o movimento me levaria. Escolhi a Itália. Bolonha. Dentre as inúmeras razões, o polo gastronômico, o hub, as opções de evolução e o mais decisivo para mim: É a Itália.
Desde a primeira vez que vim para cá, o cheiro do país lembrou minha avó. Amo o cheiro da minha vó. Amo cheiros. Cada cantinho que percebo quando estou caminhando aqui para resolver o montão de problemas, que sim acontecem, os odores e sabores me surpreendem. Aparece um problema, e logo mais aparece uma sensação de conforto, um sussurro de saber que tudo que a vida te entrega é para fazer você ser melhor.
Créditos: Arquivo pessoal
Do momento da possibilidade, até a chegada, foram três meses. Três meses que fechamos a casa, cobrimos o carro, empacotamos a vida e partimos com duas malas cada um. De 32 quilos. Obrigado Anac.
É neste momento que todos pensam (e te falam) a mesma coisa: se prepare, é difícil, você vai ser sempre um estrangeiro, o idioma complica, existe preconceito, e tudo que já estão acostumados a ouvir.
Quer saber? A vida está linda. Meu copo nunca esteve meio vazio.
Créditos: Arquivo pessoal
Todo lugar é diferente. Todo nascer do sol tem cores únicas e a gente nunca sabe o que as ondas do mar vão te trazer a seguir. Sendo difícil a gente supera. Sendo um prazer, se desfruta.
E o que isso é diferente de morar a vida toda no mesmo lugar? Como você se acomoda. Confort zone. Eu acho que é a forma que você vê o seu entorno. Ai meu Deus, tenho que passar minha roupa. E agora que ninguém sabe mais como gosto do pãozinho de manhã? Ninguém me conhece…
Créditos: Arquivo pessoal
Bom, você pode simplesmente nunca mais passar roupa, ou não comer mais pão. E em todo lugar há uma mesa de bar, um café, alguém precisando de ajuda, alguém querendo conversar…
A sensação do precisar é relativa. Ela é relativa à sua imaginação. Voar faz bem.
A adaptação é a grande virtude do ser humano. Quem não se adapta está morto.
Só não sabe ainda.
Relato por Marcos Bastolla, que trabalha há 15 anos viajando pelo mundo