Projeto aposta no turismo rural em regiões gaúchas pouco exploradas

turismo-rural-Sítio-Sonho-Meu-rio-grande-do-sul (Foto: Diego Vilela/Canguçu Online)

Costa Doce e Pampa Gaúcho são as duas regiões inseridas no Projeto de Turismo Rural do Sebrae. A primeira, na área central do Estado, estende-se ao sul e abrange a Laguna dos Patos e as lagoas Mangueira e Mirim. A paisagem e a preservação da cultura dos imigrantes italianos e alemães são o diferencial da Costa Doce. O Pampa situa-se na região de fronteira com a Argentina e Uruguai, caracterizada por seu relevo de coxilhas, criação de cavalo crioulo e grande potencial para o turismo de aventura.

“O projeto Gaúcho do Pampa ao Mar foi lançado em 2014 e vai até o final deste ano. O objetivo é atender 50 empreendimentos rurais”, explica a gestora Jussara Cruz Argoud. Ao todo, são 11 projetos estaduais. “Considera-se turismo rural aquele que tem algo associado à atividade agropecuária. Pode ser uma pousada, um produto como cavalgada, trilhas ou venda de alimentos feitos no local”, diz Geraldo Henrique da Costa, analista do Sebrae. “Geralmente, a atividade turística acaba sendo um complemento de renda para o agricultor”. Um dos novos roteiros dentro do projeto é o Morro de Amores, no município de Morro Redondo. O nome foi escolhido pelo carinho que os empreendedores têm pela cidade. O roteiro conta com pousadas, propriedades que abrem as portas para trilhas, café colonial, almoço, degustação de vinhos e queijos, entre outros atrativos.

A Pousada da Cachoeira é uma das atrações do roteiro Morro de Amores. Situada a 218 quilômetros de Porto Alegre, o local é um convite a quem deseja a tranquilidade e a paz que a natureza oferece. Sinval Tavares e a esposa, Maria Elaine Rodrigues Tavares, compraram a propriedade há duas décadas com o intuito de ter um lugar para descansar. Mas a beleza do lugar sempre chamou a atenção das pessoas. “Muitos passavam pela estrada, viam a cachoeira e perguntavam se podiam entrar para conhecer”, diz Sinval.

pousada-cachoeira-turismo-rural (Foto: Diego Vilela/Canguçu Online)

O interesse do público levou o casal a abrir as portas da propriedade há 15 anos. O nome escolhido, Pousada da Cachoeira, não poderia ser outro, já que a queda d’água é a principal atração. O local conta com dez apartamentos de vários tamanhos, sendo que o menor acomoda cinco pessoas. A diária do padrão standard sai por 130 reais e a maior, padrão luxo, por 240 reais. Todos eles têm dormitórios, sala, banheiro, cozinha e churrasqueira. A pousada não tem restaurante, a ideia é que as famílias sintam-se livres para seguir seu ritmo, fazer sua própria refeição e desfrutar o local como desejarem.

Além do banho de cachoeira, o visitante poderá andar pelo jardim e pela mata. Há duas trilhas. Uma fica dentro do espaço cercado de 5.000 m², onde podem ser vistos pavões, galinha-d’angola, ganso e outras aves exóticas. A outra, mais radical, apresenta 1,5 quilômetro de subida acentuada. O casal de aposentados comemora o sucesso do empreendimento. “A demanda é maior do que conseguimos atender, principalmente na alta temporada”, diz Tavares. Desde que o projeto de turismo rural começou na região, o proprietário integrou-se ao grupo que conta como apoio técnico do Sebrae. “Fui contador e sempre instrui meus clientes a procurar o Sebrae. Gosto muito do trabalho que tem na área de gestão.”

O Sítio Sonho Meu também fica em Morro Redondo e faz parte do roteiro Morro de Amores. Como o próprio nome diz, a propriedade era um sonho do professor universitário Cilon Rodriguez. Há 13 anos, ele comprou o local de 5,5 hectares e, mais recentemente, mudou-se com a esposa para lá. Oriundo de uma família grande, Rodriguez construiu um salão de festas com capacidade para comportar todos os parentes, cerca de 100 pessoas. Por conta deste espaço, foi convidado para fazer parte do grupo de turismo rural que o Sebrae montou no município há dois anos. “Eu e minha esposa começamos a participar e nos entusiasmamos”, diz o professor, que decidiu abrir o sítio para visitas agendadas a grupos interessados em desfrutar o café ou almoço colonial, típicos da Costa Doce.

turismo-rural-Sítio-Sonho-Meu-rio-grande-do-sul (Foto: Diego Vilela/Canguçu Online)

Logo ao chegar à propriedade, o turista depara com a placa: “A vida é cheia de bodes na família, nas finanças, no trabalho. Amarre o seu bode aqui na porteira e entre. No final, caso queira, sinta-se à vontade para pegar o seu bode de volta”. Tanto o café quanto o almoço custam 30 reais por pessoa e dão direito à trilha de Francisco de Assis, um trajeto leve de um quilômetro que passa por colinas, pontes e riachos. No percurso, o visitante vai deparando com as 15 frases que compõem a famosa oração do santo. “A ideia é que eles não só aproveitem a natureza, mas façam uma reflexão sobre a vida”, diz Rodriguez.

O professor contou que procurou capacitar-se para abrir a propriedade à visitação. “Sou muito idealista e não comerciante, mas o Sebrae me mostrou como calcular os custos e tornar a propriedade autossustentável.” Todas as refeições oferecidas são preparadas em família, a oito mãos: o casal Rodriguez, seu irmão e a esposa. Entre as delícias, estão produtos da região: cucas, chimias (espécie de geleia) e pães, que podem ser comprados na lojinha da propriedade e levados para casa.

O Sebrae ajudou cada empreendedor a montar e implementar seu plano de ação. Além disso, ofereceu consultorias de acordo com a demanda. “Enviamos, conforme o caso, especialistas em gastronomia ou em trilhas”, diz Jussara. “A ideia é que, daqui a alguns anos, esses roteiros sejam tão conhecidos como as Serras Gaúchas.”