Brejeira lição ao primeiro mundo

O episdio envolvendo de um lado o chef americano Mario Batali, que esteve no Brasil h duas semanas para a inaugurao do complexo gastronmico Eataly, e de outro o restaurante Man, que no segurou uma reserva (devido ao atraso) para ele e seu grupo, revela muito do tratamento que se espera de um restaurante, aqui e no mundo.

Brasileiros tm preguia de fazer reservas –pelo menos no seu pas. Quando se transformam em turistas, a coisa muda: sabendo que muitos restaurantes estrelados sofrem de superlotao e temerosos de literalmente perderem a viagem, costumam providenciar reservas com boa antecedncia em suas mecas de alm-mar.

Mas, aqui, sofrem de dois tipos de sndrome. Uma a do improviso: s decidem onde comer na ltima hora e se abalam para o restaurante sempre na esperana de que haver lugar, mesmo sob pena –alguns at gostam– de ter que esperar aqueles “20 minutos” que sero no mnimo o dobro.

A outra sndrome antirreservas a da arrogncia. Muitos acreditam que, ao chegar ao restaurante em que so conhecidos, conseguiro furar fila impunemente. Quanto mais rico o cliente, e mais subalterno o restaurante, mais vezes essa triste gambiarra de fato funciona.

Mas falvamos de Mario Batali. Um ser do primeiro mundo. E do mundo dos restaurantes: tem uma penca deles (mais de 20), inclusive o Del Posto, com a cotao mxima do jornal “The New York Times” (embora somente uma estrela “Michelin”, como outra de suas casas, o Babbo, ambos em Nova York).

Scio do Eataly, ele pretendia jantar no Man com sua entourage (que inclua Lidia Bastianich, celebrity-chef de TV como ele, e tambm scia do Eataly e do Del Posto) no ltimo dia 13. O grupo fez reserva, mas atrasou 45 minutos (em seus irados tutes, Batali admitia atraso de 25 minutos –a tolerncia de 15).

O furioso chef afirmou que telefonara no caminho avisando do atraso e no se conformava que ainda assim, ao chegar, a mesa no estava sua disposio: teriam que entrar na espera pela prxima mesa vaga.

Como teria reagido o Del Posto ou outros dos restaurantes nova-iorquinos do famoso chef se, por exemplo, Helena Rizzo (do Man) atrasasse quase uma hora enquanto uma longa fila de espera estaria vendo aquela mesa vazia e intacta mesmo depois do horrio mximo de reservas?

Arrisco aqui um palpite: nos grandes restaurantes de Nova York, se Helena fosse uma brasileira annima, por mais que ligasse avisando, teria imediatamente perdido a reserva, a mesa, a viagem.

Se, por outro lado, fosse anotada (com a marca de VIP na reserva) ou reconhecida como uma famosa e premiada chef, se explicasse que amiga e admirada por grandes chefs do mundo, e que Batali quando viesse ao Brasil certamente desejaria ir ao Man –enfim, se desse uma carteirada afiada– possivelmente teria seu lugar preservado.

O que provavelmente ocorreu em So Paulo foi que a pessoa que atendeu ao telefonema de Batali no sabia quem eram as celebridades que estavam para chegar. Ou ento era instruda mesmo para no favorecer ningum, em respeito a quem cumpria o horrio e aos clientes que penavam na fila de espera.

Acho que, com isso, o brejeiro Man deu uma lio ao primeiro mundo de Batali (que, como se v, no aquela coisa cor-de-rosa que tantos inferiorizados brasileiros adoram achar).