O primeiro impacto ao entrar na Che Figata foi visual: as paredes parecem falar. Entre embalagens de farinha italiana, plantas de folhagem verdes que pendem do teto e páginas de receitas envelhecidas pelo tempo, destacam-se pinturas vibrantes de grafite bem humoradas como a frase “coma com as mãos”. Foi como se o próprio espaço anunciasse que formalidades não eram bem-vindas — apenas o prazer visceral de uma boa comida. A disposição das mesas sob luzes pendentes que lançam sombras acolhedoras, me lembrou aquelas cantinas italianas onde o barulho dos talheres se mistura com risadas e histórias. É como entrar na cozinha de uma avó italiana que se instalou no Jaguaré.

A Burrata Desconstruída chegou como uma obra de arte contemporânea: em um daqueles pratos sem frescura que você encontraria na casa da sua vó, crostini dourados e quentinhos — feitos da mesma massa de pizza fermentada por 48 horas — acompanhados de burrata generosa e muito cremosa, folhas de mostarda fresca, molho de tomate e patê de azeitonas pretas. Seguindo o ritual ensinado pela chef, espalhei a burrata sobre um crostini, acompanhada de um pouco de molho de tomate e o patê e envolvi tudo em uma das folhas verde. O resultado foi uma explosão de contrastes: o crocante do pão, o derretimento do queijo, o frescor das folhas e a complexidade salgada e ácida do creme e do molho. Me arrisco a dizer que a ida até o Che Figata é válida só para conhecer essa delícia.
Mas, as pizzas roubaram o espetáculo. Miramos na pizza de brie com pancetta na certeza de que não poderia haver erro. Estávamos certos. O queijo suave e derretido, envolvia fatias de pancetta das mais saborosas que já provei e casava perfeitamente com um toque adocicado equilibrando gordura e acidez. A estrela da noite, entretanto, não poderia ser outra senão a maravilha que leva o nome da casa: A Che Figata não é apenas uma pizza: é um manifesto. Molho de tomate italiano San Marzano, Nduja – linguiça artesanal macia e apimentada típica da Calábria no sul da Itália, fior di latte, fio de creme de limão cravo e poejo fresco – é de comer lembrando da nonna!
Para refrescar a boca apimentada, a limonada rosa, feita com cranberry, surgiu em uma jarra de vidro gelada, feita na hora pela própria chef. Não vou mentir, mesmo amando limonadas em todos seus sabores, esta foi uma surpresa: menos doce que o tradicional, mas com um toque herbal e fresco — perfeita para limpar o paladar entre uma fatia e outra.

Falando na chef, não deixe de ouvir suas histórias e sugestões ao conhecer o lugar. Ela, Vanessa, e o marido, João, formado em panificação e o responsável pelas maravilhosas massas de longa fermentação, circulam entre os clientes com a familiaridade de quem recebe amigos em casa. Foi ela quem, após ouvir nossos muitos elogios ao seu molho de tomate, nos presenteou com um vidro cheio da delícia para saborearmos em casa. (Eu que não iria reclamar, não é?)
E para encerrar, me parece que é crime ir a um restaurante de origem italiana e não provar seu cannoli, portanto, enquanto provava o do Che Figata, que era crocante e recheado com doce de leite, reparei nos detalhes que as fotos não capturavam: o balcão de madeira onde repousavam garrafas de azeite, os pacotes de farinha Molino Grassi espalhados pelas paredes como troféus, e o quadro de uma colorida Gioconda — sua expressão de meio sorriso parecia aprovar cada mordida.
Dicas para quem quer ir:
- A Burrata Desconstruída (R$77) é um prato fotogênico, mas o verdadeiro deleite está em montá-lo com as próprias mãos. Não pule o patê de azeitona!
- A casa tem vários sabores de pizza autorais – se estiver acompanhado, escolham sabores diferentes para provar mais de uma dessas delícias!
- A limonada de cranberry (R$18) é o par perfeito para acompanhar as pizzas. Vá por mim e peça logo a jarra!
- Faça uma pose: cada canto do restaurante é um cenário digno de Instagram, das paredes decoradas aos pratos.