Especialista defende turismo de experiências como alternativa …

Presidente para a América do Sul da SITE (Society of Incentive Travel Executives), o argentino Alejandro Verzoub esteve em Florianópolis na última semana para uma palestra em um seminário sobre o mercado de eventos. Ele falou sobre a importância de atrair outro tipo de visitante à cidade. Além dos turismos de lazer e de negócios, Verzoub argumenta que Florianópolis pode explorar as viagens de incentivo como meio de ampliar o apelo turístico e incrementar a arrecadação do setor.

Qual o conceito do turismo de incentivo?
Da maneira que são implementadas, as viagens de incentivo permitem premiar clientes ou funcionários de uma empresa com uma experiência mais sofisticada, que não a típica viagem de turistas. Geralmente, são atividades participativas e exclusivas, que têm a imagem de prazerosas e difíceis de serem feitas por conta própria. Já levei, por exemplo, um grupo para um voo de helicóptero sobre um vulcão em atividade no Havaí e outro a mergulhar em uma caixa-tanque com tubarões. São coisas bem diferentes, que a pessoa não poderia fazer sozinha porque seria muito caro. Isso gera um impacto positivo. Em outros incentivos, contratamos uma empresa de óculos de qualidade. Depois do check-in, o grupo vai ao estande da empresa e, por estar credenciado, tem direito de escolher um modelo, entregue com estojo especial e nome impresso. Essa sensação de exclusividade é a diferença, para que possam contar algo inesquecível, diferente e formidável.

Como isso impacta as empresas?
As empresas que utilizam viagens de incentivo com criatividade e com a capacidade de impactar emocionalmente os participantes são as que vão gerar divulgação para suas marcas e fidelidade daqueles clientes, que passam a participar ano após ano desses programas, onde a expectativa é poder ganhar novamente uma viagem. Mudam destinos, atividades e temas, mas a proposta é a mesma.

Economicamente, qual a diferença do turismo de incentivo?
A grande diferença está na comparação ao que seria o investimento médio de um turista ou de uma pessoa que participa de uma conferência. O turista gasta entre US$ 60 e US$ 100 por dia, e o participante de uma conferência, que vem a um evento associativo, gasta, em média, US$ 250/dia. Nas viagens de incentivo, muitas vezes a média diária é de US$ 500 por pessoa.

Como vê o Brasil nesse cenário?
Fantástico. Aqui [em Florianópolis], ainda estamos tentando incorporar nos fornecedores locais a compreensão do segmento. Precisamos começar a explicar as diferenças e mostrar como cada segmento requer um marketing diferente e como cada participante na cadeia de valor pode fazer coisas distintas para se diferenciar.

E quanto à execução dos serviços?
Tem fornecedores ou intermediários que querem levantar a mão para tudo e, quando conseguem o negócio, vão procurar maneiras para executar o serviço. Isso é improvisação. Nesse mercado, não há espaço para erros, porque uma empresa paga muito dinheiro para ter sucesso. É preciso conhecimento e gente com experiência para saber quais os riscos, o que precisa ser planejado, onde é preciso mais atenção etc. Você gerencia um grupo com certa sofisticação, viajado. Que não vai ter paciência nem tolerância com serviço lento. Se já tem experiência em tomar vinho de alta qualidade, não pode servir um vinho barato, sem a mesma qualidade. Essas coisas obrigam toda a cadeia de valor a ter maior sofisticação e, com isso, mais rentabilidade. Essa é a oportunidade para o segmento.

Como enxerga o potencial de SC, em especial Florianópolis?
Trago grupos de incentivo há cinco anos. A realidade é que Florianópolis é um destino particularmente disperso geograficamente, onde há uma variedade de praias. A cidade, no meu critério, não é o centro da atração. Há uma rede hoteleira boa, mas para justificar trazer um grupo de 30 pessoas em uma premiação, tenho que ter certeza do que vamos fazer três dias, não ficando apenas em resorts. Isso é para o turista tradicional. É preciso pensar também na sinergia dos destinos perto, algo que a geografia da cidade obriga. Podemos fazer atividades como aprender a surfar na Joaquina ou fazer nudismo na Galheta. Podemos, inclusive, ir a outras cidades, desde que o deslocamento não leve mais do que duas horas.

Qual a importância da cidade e das empresas se associarem a diferentes entidades?
Há muitas situações onde o empresário simplifica, acreditando que vai fazer mais negócios ou aumentar o prestígio da empresa porque vai pagar uma chancela de uma associação. Isso é papo, não transforma ninguém em um melhor profissional. É simplesmente uma informação para os outros. A pergunta é: o que fazer com a chancela? Participar dos eventos, compartilhar informação, participar das pesquisas, dar feedback.É um trabalho onde o profissional latino-americano ainda é imaturo, não compreende perfeitamente. É preciso outra mentalidade.