Há 43 anos no ‘Copa’, porteiro se emociona ao falar de Lady Di

Em seus 92 anos de existncia, a porta dourada de madeira, metal e vidro do nmero 1.702 da avenida Atlntica, em Copacabana, no Rio, continua a girar, impulsionada pelo vaivm de famosos e de uns tantos annimos.

Ningum, todavia, a cruzou tantas vezes quanto um homem franzino que esconde a calvcie j avanada sob um quepe branco de capito-porteiro, funo exercida pelo capixaba Jorge Freitas.

Quando chegou ali, em 1972, era um rapaz de 20 anos que nem conhecia o Rio. Recebera de um tio, que, poca, trabalhava no Copacabana Palace, uma carta em que lhe oferecia uma oportunidade de emprego no hotel. O moo pegou um nibus em Vitria (ES) e aportou na capital fluminense, pronto para viver novas experincias.

Fez limpeza, cuidou das toalhas da piscina, apertou botes dos elevadores, correu pra l e pra c como mensageiro. H 23 anos, porm, tudo mudou: ele passou a ser a “cara” do Copa. At hoje, o primeiro funcionrio com quem os hspedes se deparam antes de adentrar o hall.

Conhecido entre os colegas do hotel como Cafu, apelido que ganhou quando era artilheiro do time de funcionrios que batiam bola na areia ali da frente, Freitas coleciona lembranas de hspedes famosos: de Tom Cruise recebeu um aperto de mo, de Roberto Carlos e Barbra Streisand ganhou discos autografados e do astro Will Smith obteve um amistoso tapinha nas costas, mas por Lady Di que seus olhos ainda se enchem de lgrimas.

O momento mais marcante de seus 43 anos de hotel foi a despedida da princesa. Em certa tarde de abril de 91, ela cruzou a porta ante uma ruidosa multido de admiradores que, ancorada na grade de proteo diante da fachada de estilo neo-clssico, disputava um lance de olhar.

Cafu abriu a porta do carro, e Diana segurou na mo dele por “cerca de trs minutos”, calcula. “Foi tempo suficiente para ela olhar rapidamente para mim”, relembra com orgulho, hoje, aos 63 anos. Acostumado a ver de perto as mais estonteantes atrizes e modelos, filosofa: “J vi muitas mulheres por aqui, mas a princesa era dona de uma beleza que transcendia o belo”. Emocionado, s conseguiu desejar a ela uma boa viagem: “Have a nice trip!”, em ingls, lngua aprendida ali, no hotel.

DE SAPATOS PRATARIA

Seis pisos acima, o venezuelano Csar Cabello, 32, o mordomo que assessora os “VIPs dos VIPs”, hospedados nas “penthouses” do sexto andar, onde uma diria custa mais de R$ 10 mil.

Formado em gerncia de hotis em Dublin, Cabello responsvel por uma srie de detalhes: do polimento da prataria e da organizao da porcelana ao arranjo de oito tipos de fruta e checagem da dobra dos guardanapos de linho. Tambm ele quem faz e desfaz malas, organiza o “closet”, lustra sapatos, encaminha as roupas para a lavanderia e passa ternos, vestidos e trajes de gala…

Fluente em espanhol, portugus, italiano e ingls, vira cicerone dos ilustres. Em abril, serviu refeies ao megainvestidor George Soros, que trouxe seu chef particular. Sem dispensar os sapatos, o terno e a gravata, foi ele quem acompanhou a mulher de Soros, que, durante a madrugada, quis dar um mergulho no mar que via da janela.

As mnimas coisas ganham importncia num hotel de luxo: era preciso certificar-se de que o protetor solar fator 30 estava disponvel na “black pool” quando a cantora Miley Cyrus quis nadar sob o sol escaldante do meio-dia. L estava Cabello. Nas espreguiadeiras da piscina, exclusiva daquele piso, j se esparramaram beldades, como a top model Gisele Bndchen, o ator Hugh Jackman e o ex-Beatle Paul McCartney.

A rotina de Cabello e Freitas inclui o contato com celebridades, mas h quem atue nos bastidores: o caso de Cludia Rodrigues, a Claudinha, 50. Cabe a ela revisar o cho, as paredes, os sofs, as almofadas, os quadros, o guarda-roupa. Dos rodaps aos vidros das janelas, do lenol envelopado organizao dos 16 cabides e disposio dos 12 travesseiros e dos pares de Havaianas brancos, tudo passa pelas mos dela.

S de Copa, so 30 anos. Para liberar o apartamento, pode demorar mais de uma hora. A arrumao da cama, por si s, consome 15 minutos. A operao cronometrada, seguindo um “checklist” que envolve 58 itens.

O olhar da funcionria desenvolve uma trajetria circular, pensada para que nada escape da checagem.

“Com o tempo, lapidei o exerccio de observar”, diz ela, a voz calma e o sorriso aberto, enquanto corre lentamente os olhos pelos quadros da luxuosa sute.

O jornalista viajou a convite da rede Belmond