A lenda dos Alebrijes de Oaxaca, no México
Diz a lenda que só seres de outro mundo seriam capazes de espantar os mais terríveis pesadelos. Por isso, criaturas míticas e às vezes assombrosas, que ganharam o nome de Alebrijes de Oaxaca no século 20, tomam forma nas mãos dos artesãos oaxaquenhos para cumprirem seu papel de protetores de sonhos e trazerem sorte.
As peças de artesanato, esculpidas e pintadas à mão, representam animais imaginários e muito coloridos. Não há limite para a imaginação: de uma cobra com cabeça de dragão, um duende com asas e quatro olhos ou um gato de chifres, tudo é permitido nesse universo.
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Mas a verdade é que esses “monstros” são verdadeiras obras de arte e acabam inspirando mais ternura do que horror. Saiba que ao comprar ou receber um Alebrije, além de contribuir para a manutenção das tradicionais famílias artesãs da região de Oaxaca (pronuncia-se “Oarraca”), na costa sul do Pacífico mexicano, você terá em mãos uma peça única e exclusiva.
Origem
Os Alebrijes receberam esse nome em 1936 por causa de Pedro Linares López. O artista que vivia na Cidade do México sofreu de uma doença que o deixou à beira da morte. Muito doente, teve fortes alucinações que o fizeram imaginar estar em um bosque onde viu seres surreais e esses o acompanhando no caminho de volta à consciência. No percurso escutava as criaturas gritando “Alebrijes!” “Alebrijes!”. O nome em si não tem significado nenhum, mas devido ao sonho suas obras em papel cartão representando esses seres de outro mundo ganharam a exótica nomenclatura.
Mas a história do artesanato em madeira desses animais é de longa data. Eles começaram a ser esculpidos pelos Zapotecas mais ou menos 200 anos d. C na pitoresca cidade de Oaxaca. Acreditavam que a peça atraía sorte, além de usarem para fins religiosos e armadilhas de caça. As crianças também recebiam como presentes para brincarem, tradição que continua até hoje.
As figuras em madeira não tinham um nome específico e, por isso, com o tempo se adotou o nome “Alebrijes de Oaxaca” tendo como referência o caso e as obras de Pedro Linares. Estima-se que atualmente haja mais de 150 famílias que vivam do ofício na região, principalmente nos povoados de San Martin Tilcajete, San Antonio Arrazola e La Unión Tejalapam.
Técnica
Conhecimento passado de geração em geração, é preciso muito talento e habilidade para fazer uma peça. Começa-se esculpindo a madeira, depois há o preparo para a pintura e então se inicia a coloração com criatividade e cuidado. Todo o processo pode levar de um dia, a meses e até um ano para ficar pronto, tudo dependendo do porte da peça.
A madeira utilizada é o copal, árvore sagrada dos Zapotecas. Uma vez esculpida a figura, é mergulhada em gasolina para afastar os cupins. Depois de seco, alguns artesãos ainda aplicam uma tintura natural: a casca do copal é deixada no sol para depois poder virar um pó e a isso se agrega ingredientes como suco de limão para alcançar uma tonalidade amarela, bicarbonato para vermelho, mel para brilho e assim por diante.
Evolução
Antes da década de 1980, a maioria das esculturas foi feitas com base no mundo real (como animais de granja, comuns ao estilo de vida da população) e espiritual. As peças eram moldadas e pintadas de maneira bastante simples. Mais tarde, já conhecidos por Alebrijes, os artesãos Manuel Jiménez de Arrazola, Isadoro Cruz de San Diego e Martín Tilcajete fizeram fama ao esculpir com cada vez mais perfeccionismo e criatividade, acrescentando animais exóticos para a região, como leões e elefantes. Assim, conquistaram reputação para venderem suas peças.
A procura pelas obras por outras partes do México aumentou e outros países também se interessaram solicitando peças cada vez mais excêntricas, impulsionando o comércio. Outro fato que também incentivou a criatividade dos artesãos foram concursos promovidos pelo Estado de Oaxaca na década de 1970, que davam prêmios e visibilidade à arte.