Com real mais barato, praias do Brasil voltam a ganhar sotaque argentino
Na operadora de turismo argentina Principios, o gerente de vendas Oscar Jurez comemora a boa fase: “Neste ano, a procura por pacotes tursticos no Brasil duplicou”.
Com o peso valorizado, graas estratgia pr-eleitoral de Cristina Kirchner de evitar uma impopular alta do dlar, combinado uma desvalorizao do real que supera 50% neste ano, o Brasil voltou a ser destino atrativo para os turistas “hermanos”.
De janeiro a agosto, o Brasil foi o principal pas buscado pelos argentinos. Cerca de um quarto dos que viajaram para o exterior tiveram como destino o Brasil, com um aumento de 13% em relao ao perodo de janeiro a agosto do ano passado.
O real mais fraco deixou a hospedagem e as compras mais acessveis para os argentinos, que esto trocando as praias geladas do litoral do pas e do Uruguai pelo Brasil.
“Os argentinos esto aproveitando o momento e comprando pacotes at outubro de 2016. O vero j foi quase todo vendido, me restam poucas opes”, disse Jurez.
O advogado Hernn Campaa, 50, vai atravessar a fronteira de carro at Lagoinha, no litoral de Santa Catarina. Ele, a mulher, duas filhas e duas amigas das filhas passaro 15 dias de janeiro em uma casa alugada pelo equivalente a 7.000 pesos por semana (cerca de R$ 1.850).
“Est mais barato do que alugar uma casa em Caril ou Pinamar [litoral argentino].”
No litoral argentino, alugar uma casa para todo o grupo no sairia por menos de 10 mil pesos semanais (R$ 2.600).
“No Brasil, a comida mais cara, mas tambm mais farta e, com o preo atual do real, vale mais a pena”, disse. Outras seis famlias amigas faro o mesmo trajeto, diz ele, alguns para Bombinhas, outros para a Praia do Rosa, tambm em Santa Catarina.
At outubro, a Embratur registrou alta de 50% nas vendas de pacotes para o Brasil de argentinos. A Abav (que rene as agncias de viagem brasileiras) espera um aumento de 30% no fluxo de argentinos at o fim do vero.
“DME DOS”
Na poca em que o dlar valia um peso, nos anos 1990, os argentinos invadiram as praias brasileiras na fase que foi apelidada pelos hermanos de “dme dos” [me d dois, em vez de um apenas].
Na ltima dcada, com a alta do real -quando o dlar chegou a valer R$ 1,60- a relao se inverteu e os brasileiros invadiram Buenos Aires.
Jurez acredita que a relao voltar a pender para os argentinos. Alm da desvalorizao do real, a recesso brasileira ajudou a desinflar preos em outras regies at ento menos buscadas pelos argentinos.
“O Brasil voltou a estar ao alcance da classe mdia, que havia trocado o pas pelas praias argentinas”, disse. “Antes havia uma concentrao da procura em alguns destinos, agora estou vendendo Porto de Galinhas, Jericoacoara e at Amaznia.”
O argentino acredita que parte da demanda tambm pode se explicar pela expectativa de que, logo que assuma o novo presidente, Mauricio Macri, possa haver uma desvalorizao do peso, como ocorreu com o real.