Cuba está preparada para ‘invasão’ do turismo americano?

Cuba - turistas (Foto: BBC)

Não é difícil entender por que Cuba é um destino tão popular para os turistas estrangeiros. A música, a cultura local, os charutos, o rum e as praias paradisíacas atraíam visitantes muito antes da vitória da Revolução Cubana, liderada por Fidel Castro.

Juntando a isso a imagem dos carros antigos atravessando as ruas de um dos últimos bastiões comunistas do mundo, Cuba é única no mercado internacional do turismo – tem uma espécie de “selo de autenticidade” que os viajantes em geral buscam atualmente.

 


Apesar do processo de “degelo” diplomático entre os governos de Raúl Castro e Barack Obama que começou em dezembro de 2014, Washington mantém sua proibição oficial de que os cidadãos americanos viagem à ilha como turistas.

Mesmo assim, alguns turistas americanos ignoram a norma.

“Não me importa se eles acham que estou infrigindo a lei. Sempre a considerei uma regra arbitrária e ridícula”, diz David, um músico do Estado de Illinois que já está em sua segunda viagem à ilha sem a autorização necessária.

Desde que o presidente americano sentou-se junto ao líder cubano na Cúpula das Américas, em abril, cada vez mais americanos se sentem legitimados em sua vontade de conhecer o país.

Para muitos deles parece injusto, e até ilógico, proibir as viagens a um país com o qual as relações tendem a ser cada vez mais próximas – principalmente após a reabertura da embaixada americana em Cuba, nesta sexta-feira. A representação diplomática estava fechada desde 1961, auge da Guerra Fria.

Na cerimônia, o secretário de Estado dos EUA, disse que a reaproximação bilateral foi possível porque “nossos líderes, os presidentes (Barack) Obama e (Fidel) Castro, tomaram a corajosa decisão de deixarem de ser prisioneiros da história”.

Vistos
Tradicionalmente, os americanos que visitaram Cuba ilegamente chegaram via México, Canadá ou Bahamas.

Desde dezembro, no entanto, tem sido muito mais fácil conseguir um visto oficial em alguma das 12 categorias cuja entrada é permitida na ilha, desde intercâmbios culturais e científicos até eventos esportivos ou musicais.

Além disso, muitos simplesmente perderam o medo de ser multados pelo governo dos Estados Unidos por visitar Cuba sem autorização prévia.

Novas rotas para voos fretados até Havana foram criadas desde New Orleans e Nova York, e empresas conhecidas como Airbnb e Mastercard anunciaram planos de começar a operar em solo cubano.

O resultado é um aumento sem precedentes na demanda por voos e hospedagem e Cuba.

Uma agência de viagens em Nova York registrou um aumento de quase 250% só no último mês de março, segundo a agência de notícias Associated Press.

“A palavra mais adequada é esperança”, diz à BBC Mayra Crespo, agente da empresa de turismo californiana Marimar Tours, enquanto guia um grupo de admiradores de carros antigos na capital cubana.

“Nunca vi tanto interesse em Cuba. Aqui nos esperam com braços abertos. Meu trabalho é ser a ponte entre os dois povos.”

Crespo, uma cubana que deixou a ilha quando criança e vive desde então nos Estados Unidos, afirma que ela e seus colegas estão completamente preparados para aproveitar o aumento do turismo em Cuba.

“Minha geração não tem o mesmo ódio que nossos padres tinham (ao governo de Fidel Castro). Pelo contrário, eu quero ajudar Cuba, ser parte da solução.”

A questão da infraestrutura
No entanto, a pergunta chave neste momento é se a antiquada infraestrutura turística de Cuba pode fazer frente a tamanho aumento da quantidade de visitantes.

Este ano espera-se não somente um aumento no número de visitantes dos Estados Unidos – entre 600 mil a um milhão de pessoas, muitos deles cubanos que voltarão à ilha para visitar familiares –, mas também o dobro de turistas de outras partes do mundo.

Há uma notória demanda de europeus, canadenses e latino-americanos que querem ver Cuba “antes que os americanos cheguem”.

O governo de Havana diz que está se preparando para este momento com a expansão do aeroporto da capital e a construção de novos hotéis de luxo, tanto em Havana quanto em balneários como Varadero.

“Todos temos que nos preparar pouco a pouco”, diz Alfredo Lachos, diretor-geral do Iberostar Parque Central, um hotel de cinco estrelas no centro antigo de Havana.

“Nossa empresa está se preparando para uma expansão como esta há anos. Acho que estamos prontos.”

‘Sem quartos’
Entretanto, é cada vez mais difícil encontrar quartos nos hotéis ou mesas em restaurantes populares da capital, especialmente durante a alta temporada.

“Se você não reservou seu hotel antes de chegar aqui, o mais provável é que não tenha onde dormir”, diz Lucy Davies, diretora da empresa Cubania Travel, especializada em passeios de bicicleta na ilha.

Mas já está claro que, se os hotéis estatais não conseguem dar conta do aumento de turistas, há milhares de pessoas dispostas a suprir a demanda.

O número de “casas particulares” – cujos donos oferecem quartos e café da manhã – também aumentou exponencialmente desde que Raúl Castro relaxou as restrições aos negócios privados em 2008.

A chegada do Airbnb à ilha, site que permite alugar e compartilhar apartamentos, também poderia ajudar a aliviar a demanda por quantos, mas é preciso que o dono da casa tenha acesso habitual à internet, o que muitas vezes não ocorre em Cuba.