Se você acha que viajar hoje em dia é desafiador, imagine fazer isso no século XIX ou XX, quando mulheres eram desencorajadas até mesmo a sair de casa sem companhia. Enquanto nomes como Marco Polo e Charles Darwin entraram para os livros de história, centenas de mulheres corajosas também desbravaram o mundo – muitas vezes com mais obstáculos e menos reconhecimento, simplesmente exploradoras esquecidas.
Elas enfrentaram não apenas os perigos da natureza, mas também o preconceito de sociedades inteiras que acreditavam que “lugar de mulher” era em casa. Viajaram sozinhas quando diziam que era perigoso. Mapearam terras desconhecidas quando diziam que elas não entenderiam de geografia. E, acima de tudo, provaram que a sede por descobrir o mundo não tem gênero.
Aqui estão algumas dessas mulheres extraordinárias que merecem ser lembradas:
Mina Hubbard: a viúva que virou lenda no ártico canadense

Em 1905, a canadense Mina Hubbard embarcou em uma expedição solitária pelo inóspito Labrador – uma região tão remota que até hoje é pouco visitada. Seu marido havia morrido tentando a mesma rota dois anos antes, mas, em vez de se render ao luto, ela partiu para completar o trabalho dele.
Resultado? Mina não apenas mapeou uma das regiões mais selvagens da América do Norte como chegou semanas antes de seu rival masculino, Dillon Wallace. A imprensa da época, no entanto, preferiu dizer que ela havia “desistido” – e quando provou que estava errada, a chamaram de “louca” e “inconsequente”.
Por que ela merece estar no seu radar? Seu diário de viagem é um dos relatos mais vívidos já escritos sobre o Ártico – e prova que, mesmo sem GPS ou equipamentos modernos, uma mulher determinada pode ir mais longe do que qualquer homem duvidaria.
Evelyn Cheesman: a mulher que viajou sozinha pelo Pacífico (e revolucionou a ciência)

Imagine passar 30 anos viajando sozinha por ilhas tropicais, coletando insetos e descobrindo espécies nunca antes catalogadas. Foi o que a britânica Evelyn Cheesman fez entre os anos 1920 e 1950, desbravando desde as Ilhas Galápagos até a Papua Nova Guiné.
Enquanto os cientistas homens da época trabalhavam em equipe e com grandes patrocínios, ela viajava com orçamento mínimo, dormia em barracas improvisadas e enfrentou desde malária até tribos isoladas. Suas descobertas foram tão importantes que uma linha biogeográfica no Pacífico foi batizada em sua homenagem: a Linha Cheesman.
Curiosidade absurda: Em uma de suas viagens, ela ficou presa em uma teia de aranha gigante – e escapou usando um alicate de unhas. A mídia adorou o fato pitoresco, mas ignorou suas contribuições científicas.
Wangari Maathai: a viajante que transformou o Quênia em um jardim

Algumas viagens não são sobre chegar a um lugar, mas sobre transformá-lo. Nos anos 1980, a queniana Wangari Maathai começou uma jornada que mudaria seu país para sempre: plantar 30 milhões de árvores.
Enquanto o governo destruía florestas para construir cidades, ela viajava de vilarejo em vilarejo, ensinando mulheres a recuperar o solo e criar florestas sustentáveis. Foi chamada de “subversiva”, ameaçada de morte e até amaldiçoada por políticos – mas não parou. Em 2004, ganhou o Prêmio Nobel da Paz e provou que viajar com um propósito pode mudar o mundo.
Alison Hargreaves: a mãe que escalou o Everest (e o mundo a criticou por isso)

Em 1995, a britânica Alison Hargreaves se tornou a primeira mulher a escalar o Everest sem oxigênio suplementar – e sozinha. Um feito histórico, certo? Errado. A imprensa não celebrou sua conquista, mas a atacou por “abandonar” seus filhos.
Exatamente três meses após o Everest, no final da tarde de 13 de agosto, Hargreaves atingiu o cume do K2 no Paquistão, o segundo pico mais alto do mundo. Poucas horas depois, ela e cinco outras pessoas morreram quando foram engolfadas por uma tempestade com ventos violentos que subiram a montanha. Ela tinha 33 anos. Na época os jornais escreveram coisas como: “Uma mãe obcecada” e “A ambição perigosa de uma mulher”.
Reflexão necessária: Enquanto homens exploradores eram vistos como heróis, mulheres eram julgadas por “negligência”.
Ada Rogato: a “mulher que voava”

Se você nunca ouviu falar de Ada Rogato, precisa corrigir isso agora. Em 1951, ela se tornou a primeira mulher sul-americana a cruzar os Andes de avião – sozinha. Depois, fez voos históricos sobre a Amazônia e até mesmo uma travessia Brasil-Japão em um monomotor.
Enquanto os homens da aviação eram tratados como ídolos, Ada enfrentou preconceito, falta de patrocínio e até sabotagem. Mas nunca desistiu. Sua história é a prova de que o Brasil também teve (e tem) suas mulheres viajantes lendárias – mesmo que a história oficial insista em esquecê-las.
Por que isso importa?
Essas mulheres não só desafiaram mapas, mas quebraram estereótipos. Elas provaram que:
- Viajar sozinha não é “perigoso demais para uma mulher” – é uma escolha.
- A natureza não tem gênero – montanhas, florestas e desertos estão aí para todos.
- A história foi injusta – mas podemos reescrevê-la celebrando suas conquistas.
Então, da próxima vez que planejar uma viagem, lembre-se: Você está seguindo os passos de gigantes – mesmo que a maioria delas nunca tenha aparecido em um livro didático.
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