Faltam turistas em SP

So Paulo ganhou mais um fenmeno desses tpicos de nossa metrpole: a inaugurao do Eataly, a filial local do emprio/restaurantes criado em Turim, na Itlia, e hoje com vrios endereos pelo mundo (o de Nova York o xod dos turistas brasileiros). Esses locais tm filas e muita gente circulando pelas sees (carnes, massas etc.) e comendo nos restaurantes anexos a cada uma, alm da enxurrada de selfies.

Quanto tempo isso vai durar? Espero que muito: os produtos so bons (embora alguns sejam bem caros), o espao generoso e os restaurantes, com altos e baixos, atendem expectativa de comer num local inusitado e movimentado.

O desafio do Eataly manter seu magnetismo ao longo do tempo, desafiando a volubilidade dos paulistanos, sempre ansiosos por novidades e prontos a trair seu ltimo flerte pela prxima aventura.

No ocorre s aqui. Qualquer cidade tem essa compulso pelo novo. O que vale para os restaurantes, rea em que as novidades lotam e muitas so logo esquecidas. Para sobreviver a essa deglutio vertiginosa, eles no podem ser apenas novidadeiros, mas ter estofo para garantir a permanncia.

Como? So Paulo tem poucos milhares de abonados que garantem um mercado permanente, mas limitado, para restaurantes mais sofisticados. A cada novo local bem-sucedido, um antigo perde clientes.
A soluo para esse impasse a existncia de uma populao flutuante -de turistas- que alimente os locais de maior prestgio.

Imagine o restaurante Daniel em Nova York, por exemplo, que h dcadas exibe a arte do chef Daniel Boulud. V jantar ali e preste ateno ao pblico: uma minoria composta de nova-iorquinos; de resto, so turistas (estrangeiros ou de outras cidades norte-americanas), garantindo a lotao diria da casa.

Em Paris, raros franceses vo comer toda semana, ou mesmo todo ms, num Pierre Gagnaire, ou num L’Astrance (de Pascal Barbot). Primeiro porque os menus no mudam muito na estao. Segundo, se para comer em locais especiais, no d para voltar sempre ao mesmo, h outros a provar.

Os turistas, no entanto, garantem sempre um movimento nas casas de prestgio.

O citado Daniel tem, alis, um fato curioso: enquanto restaurantes estrelados da Frana fazem somente uma reserva para cada mesa -que fica disposio somente do cliente que a reservou- no Daniel h pelo menos dois turnos de reserva. O primeiro, antes das 19h, para os nova-iorquinos, que jantam cedo. A segunda, para quando estes j se foram, fica para os turistas -que, como brasileiros ou espanhis, preferem jantar s 21h ou mais.

So Paulo no tem as belezas naturais de outras cidades, mas j est h muito merecendo um fluxo de turistas que sustente seus restaurantes de prestgio. No h milhes de visitantes que vo a Nova York para ver musicais e museus, entre uma compra e um jantar? Por que brasileiros (e vizinhos latino-americanos) no podem vir a So Paulo para ver museus, fazer compras, at mesmo ver musicais da Broadway (sempre h um na cidade) -e jantar?

o tipo de pacote turstico que pode ser benfico para a cidade. E que pode tornar vivel a existncia de locais de cozinha e servio exemplares, mas que dificilmente podem sobreviver somente do limitado pblico local.