Futurecom 2015: qual o futuro e desafios dos carros conectados?

Carro Chrysler

Quando o assunto é aplicações práticas para a Internet das Coisas e o futuro conectado, talvez poucos setores estejam tão avançados quanto o dos carros conectados, que reúne atualmente esforços convergentes das indústrias automobilística, de tecnologia e de telecomunicações. Carros conectados já são uma realidade e a cada ano que passa novos produtos e serviços para automóveis são introduzidos não só em salões de automóveis, mas cada vez mais em eventos de tecnologia e telecom.

O tema já tem se tornado tão relevante nesse mercado que foi discutido pela primeira vez em um painel na manhã desta quinta-feira (29) durante a Futurecom, o maior evento de telecomunicações da América Latina.

“Não dá para pensar nesse futuro sem que essas indústrias estejam juntas”, avaliou Diretor da consultoria KPMG para o setor telecom e automotivo. “Elas vão caminhar em uma realidade na qual a Internet das Coisas será uma grande plataforma que vai viabilizar o que nós chamamos da Internet do Comportamento, que é todas as tecnologias interagindo com nosso dia-a-dia”.

Nesse momento de convergência entre indústrias, o carro conectado se tornou uma forma de transformar as montadoras em um setor mais pró-ativo na relação com o consumidor, oferecendo informações e serviços extras através da chamada telemetria. Através dos sistemas embarcados em veículos e conectados, hoje os automóveis são capazes de fornecer dados em tempo real para motoristas, com diagnósticos remotos do status do veículo como monitoramento de rota e qualidade do óleo.

Esses serviços já estão disponíveis nos veículos da General Motors (GM) que lançou em outrubro uma nova versão da sua tecnologia de conectividade, OnStar. A ideia do sistema é ir além da simples conexão do carro com o smartphone do motorista, mas sim utilizar o dispositivo móvel como uma “central de controle” de informações sobre o veículo.

“A necessidade de evoluir a conectividade no carro transformou com a gente vê nosso futuro como empresa de automobilismo. Somos provedores de um serviço de transporte”, comentou durante o painel o Diretor de Marketing da GM para a América Latina, Samuel Russell. “O tempo no carro tem que ser produtivo”.

A Peugeot também disponibiliza hoje um sistema próprio de conectividade através de celular, apelidado de Link My Peugeot, que disponibiliza dados sobre o carro como a quantidade de gasolina no tanque. A integração vai além do veículo: se você estiver dirigindo até algum lugar e tiver que fazer o final do caminho a pé, é possível transmitir o trecho a pé do GPS do carro direto para o smartphone. “As montadoras vão ter que reinventar”, afirmou Fabrício Biondo, Diretor de Marketing das PSA Peugeot-Citröen para a América Latina.

Para Alexandre Abreu, responsável pela Engenharia Eletroeletrônica da FCA, além de ajudar o motorista, essas conexões proporcionam informações que podem se tornar vantagens para o próprio condutor. Citando o exemplo do novo Fiat Uno, que tem 17 centrais conectadas, Abreu conta que hoje já é possível conferir remotamente como o motorista está dirigindo e a a qualidade de emissões de gás de seu carro. “Junto ao governo, ele pode ter um IPVA mais barato, por exemplo”.

Esses são só alguns exemplos de produtos e serviços que existem no setor, mas já mostram as possibilidades de novas integrações, serviços e funções, como a chamada navegação preditiva, que irá conjugar informações sobre o tráfego com sistemas de todos os veículos ao redor – freando seu carro quando um acidente acontecer na sua frente ou até detectando um carro vindo na contramão antes mesmo de virar uma esquina. Isso, é claro, sem falar dos tão esperados carro autônomos, que já dão suas primeiras voltas ao redor de São Francisco no projeto encabeçado pelo Google. 

“A conexão do carro para poder operar, diagnosticar, localizar a distância e monitorar isso em uma rede é a pedra fundamental de inúmeros serviços que podem vir depois”, avaliou Russell.

Os desafios do setor

Apesar do otimismo em relação às possibilidades dos carros conectados, ainda existem uma série de desafios que precisam ser enfrentados não só pelas montadoras, mas também parceiros do setor. Talvez o principal deles é a conectividade: sem redes móveis, não há carros conectados. O problema é ainda mais crítico no Brasil, que pela própria extensão territorial ainda possui diversas sombras de conexão que impediriam o funcionamento de sistemas conectados.

“Sem dúvida, a infraestrutura para esse mundo novo é um grande desafio, o que a gente pergunta é qual o tamanho desse desafio”, questionou Pablo Larrieux, responsável pelo setor de inovação e B2B Telefónica Vivo no Brasil.

No entanto, Larrieux acredita que o mercado de telecomunicações tem historicamente se preparado para novas evoluções e demandas tecnológicas e conseguirá se adaptar bem ao futuro dos carros conectados. Mais do que isso: para o executivo, as inovações da indústria automotiva provocarão a inovação das próprias telcos, que avançarão seus sistemas e habilitarão ainda mais inovação, em um “ciclo de crescimento” benéfico para todas as indústrias.

Já para Alexandre Brunaldi, Diretor Comercial da Qualcomm Brasil, a tecnologia que realmente trará confiança para os carros autônomos é o 5G, a nova geração de redes móveis que deverá trazer uma nova arquitetura para dispositivos e sensores machine-to-machine (M2M).

Além da conectividade, a segurança é outra questão ainda incerta no setor e levanta ao menos dois problemas: fora a segurança dos sistemas do próprio carro, como garantir a segurança das informações que os carros conectados produzirão?

“A partir do momento que o celular é porta de entrada para o carro e vice e versa, precisa de segurança”, avaliou o engenheiro da FCA. “Esse é um assunto para o qual precisamos ter especialistas dentro de montadoras que conheçam de software, de apps e de segurança”.

Esse mindset de colaboração motivará as mudanças dentro das próprias montadoras, que precisarão de processos para lidar com as informações dos usuários de seus carros, além de contar com criptografia e firewalls de segurança que protejam tanto os equipamentos físicos quanto dados do veículo.

Para promover a segurança entre veículos, também será importante que sejam criados padrões abertos para a indústria, para que diferentes veículos de diferentes montadoras possam se conversar e garantir a fluidez do tráfego. “Dentro do ecossistema todos têm que participar, não dá para ter um rebelde”, explicou o Diretor da GM, Russell “Se isso vai ser legislado ou se a indústria vai tomar decisão, não sabemos”.

Apesar de necessária, essa integração pode se provar mais difícil que o esperado, dentro de um setor que historicamente não costuma colaborar muito. Abreu cita o caso do consórcio de montadoras realizado entre 2007 e 2008 para criar o padrão aberto de software Autosar, que passou por uma série de dificuldades para ser implementado. “Comunicação veículo a veículo não será a curto nem a médio prazo”, alertou.