No Alentejo que não morre à seca e onde a"verdadeira reforma … – Diário de Notícias
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“Isto eram terras de agricultores com vinhas muito pequenas e sem massa crítica para se fazer uma adega mas sabíamos, há mais de dez anos, que a rega do Alqueva vinha aí. Nos últimos terrenos que comprámos, os preços já saltaram porque as pessoas já sabiam que eles andavam a instalar os reservatórios”. A herdade do Ribafreixo foi uma das pioneiras na vinha de regadio mas agora todos os vinhos da Vidigueira aproveitam a água do Alqueva. “A Ribafreixo garante sete a oito toneladas de produção. Temos 700 mil garrafas de vinho para o mercado nacional e o resto é para exportação, para muitos países da União Europeia mas também para China, Japão e Filipinas”.
Como descreveu Mário Pinheiro em tom poético, o Alqueva “trabalha como se fosse um coração com artérias e veias capilares. Dali passa para outras barragens e depois tem estações elevatórias em vários locais. É água que chega em tubos grandes, uns fechados, outros a céu aberto”. Água que custa à Ribafreixo “sete a oito mil euros por ano” mas que é “essencial”.
Da “artéria” da Vidigueira, passamos para a “veia capilar” do Monte Novo, em Évora. O bloco de rega com 10 mil hectares instalado na região tem na Herdade agrícola do Gavião uma das beneficiadas. Nessa exploração de 900 hectares, 215 estão reservados para o arrendamento agrícola, como explicou o gestor Gonçalo Macedo. São nesses nesse “arrendamentos de campanha”, sazonais, que vamos encontrar culturas que antigamente não eram rentáveis e agora espalham um charme verde ao campo alentejano: bróculos, pimentos, courgettes e tomates despontam em terras que eram apenas de trigo ou de forragens para o gado. “Estas culturas já existem na zona desde que chegou aqui o perímetro de rega do Alqueva há sete anos. Mas no Gavião decidimos fazer contratos de arrendamento para a produção destas culturas há apenas dois anos. Temos dois arrendatários: um para brócolos, pimento, tomate e courgette e outro para uma multinacional dedicada à multiplicação de girassol”, descreveu.
A maior parte da herdade está dedicada à exploração pecuária. “Quando tiramos as culturas sazonais, as vacas correm todos esses campos. É rentável. Somos das herdades que mais consome água porque também temos pastagem de regadio mas vale a pena”, garante Gonçalo Macedo enquanto leva do DN a ver os campos de pimentos verdes bem viçosos. Debaixo de um dos aspersores de rega, o gestor pega num pedaço de terra húmida e explica a riqueza que ali tem: “Por causa da água a terra está húmida e desfaz-se na mão, pronta para novas culturas”. O preço é alto. A água do Alqueva paga-se a “cerca de 8 cêntimos o metro cúbico e fomos prejudicados com a redução da bonificação anual que a EDIA [empresa que gere o Alqueva] deu aos agricultores”. Nas contas, por culturas, vê-se o “disparate de água que é preciso”: o girassol leva 4000 metros cúbicos, o milho e o tomate 7000 cada, as pastagens 10.000 metros cúbicos. Mas, no final, compensa. “Eu posso-me queixar do preço da água mas sou um felizardo. Penso muitas vezes naquelas pessoas na maioria do Alentejo que não têm o benefício de ter a água para quando precisam.”
Pedro Horta, o engenheiro de produção animal da casa agrícola Monte do Pasto, em Cuba, também garante que compensa. “Antes de termos investido 17 mil euros na conduta de água para os nossos oito mil bovinos de engorda poderem beber, estávamos dependentes dos furos e do transporte de água em depósitos ou cisternas pelos trabalhadores”. A água ali é vida. “Um animal bebe 10% do seu peso vivo. Se pensarmos em 10% de uma média de animais com 500 quilos são 50 litros de água por cada animal por dia. Multiplicado por oito mil animais é uma quantidade absurda de água”. São 400.000 litros. Na charca onde a conduta desemboca “já era só lodo, os bombeiros nem conseguiam puxar água”. Ter chegado ali a água do Alqueva foi um bem incalculável.
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