O que deveria ser feito para atingir desmatamento zero no Brasil

Créditos: @Daniel Beltra / Greenpeace

Em 2016, o desmatamento na Amazônia foi responsável por 26% das emissões

O Brasil está caminhando no sentido contrário da preservação da Amazônia. Foram 55 milhões de hectares dizimados em um período de dez anos, entre 1990 e 2010. O montante equivale a uma área duas vezes maior do que o território da Alemanha. Ou seja, o único país no mundo cujo nome foi dado a partir de uma árvore, o pau-brasil, é também o que mais desmata.

Mas o caminho para reverter esse processo não é uma novidade. Isso é o que indica o estudo do Grupo de Trabalho (GT) pelo Desmatamento Zero — elaborado pelas ONGs Greenpeace, Instituto Centro de Vida, Imaflora, Imazon, Instituto Socioambiental, IPAM, TNC e WWF. O relatório “Desmatamento zero na Amazônia: como e por que chegar lá“, foi lançado na COP 23, em Bonn, na Alemanha.

O documento aponta que não há justificativa para o corte ilegal de árvores e, inclusive, mostra que a prática não é competitiva economicamente. Caso medidas fossem tomadas, o país poderia aproveitar muito mais os recursos da floresta como uma fonte de desenvolvimento e, o melhor, tudo de forma sustentável, preservando as árvores em pé.

“A gente mostra quais são os caminhos para se chegar ao desmatamento zero, fazendo uma reflexão sobre ações que foram bem sucedidas e olhando um pouco para as lacunas”, comenta Cristiane Mazzetti, especialista em Amazônia do Greenpeace. O conteúdo foi apresentado em um momento em que as discussões sobre o clima mostram-se mais urgente, considerando as dificuldades para conter o avanço do aquecimento global.

Segundo o estudo do GT, de todo o espaço desflorestado até hoje, 65% é utilizado para pastagem de baixa produção, com menos de um boi por hectare. Além disso, o corte de madeira tem contribuído pouco para o PIB, com um crescimento de 0,013% anualmente.

Créditos: IPAM

O estudo foi lançado na COP 23, em Bonn, Alemanha

As soluções

Quatro eixos de atuação são indicados como as soluções para a recuperação e a preservação do bioma. Entre eles, a implementação de políticas ambientais mais eficientes; a adoção de melhores práticas agropecuárias; a restrição de mercado para novos produtos de desmatamento; o engajamento público com a causa.

Segundo Mazzetti, o acirramento das medidas por parte do governo é uma das melhores alternativas para combater a derrubada ilegal. “A criação de áreas protegidas para garantir a conservação e o uso tradicional são formas de barrar o desmatamento. Inclusive, essas foram estratégias muito bem sucedidas pelo governo para reduzir a taxa de desmatamento de 2005 a 2012”, afirma.

As áreas de preservação também evitam a grilagem, prática de falsificação e envelhecimento de documentos para aquisição de posse de terras. Este problema vai além da questão ambiental, pois influencia diretamente o índice violência no campo.

Neste ano, a MP 759, também conhecida como MP da Grilagem, foi sancionada pelo presidente Michel Temer, mesmo à revelia de ONGs outra organizações de proteção ambiental. A medida provisória prevê a ampliação do prazo para regularização das invasões e grilagens das terras públicas, o que pode abrir espaço para o aumento das ocupações irregulares.

Para para o diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro, Raimundo Deusdará Filho, para combater o desmatamento, além da recuperação e restauração é preciso adotar o manejo florestal sustentável. “A madeira está na nossa vida e a economia florestal precisa ser fortalecida. Mas o que é o manejo florestal sustentável? É você ter a possibilidade de usar madeira, mas no ritmo que a floresta tem para se recuperar”, pontua.

Outro ponto relevante para os especialista é o envolvimento social com a causa. Conscientizar a população sobre as potencialidades da floresta, assim como os impactos da derrubada de árvores pode acelerar os resultados positivos. A compra de madeira certificada, a proteção dos recursos naturais, o plantio de mudas são medidas simples, mas significativas para a valorização da flora e da fauna do país.

Créditos: iStock / Marcelo Horn

O relatório aponta benefícios que o desmatamento zero traria ao Brasil

Os benefícios

O relatório aponta uma série de benefícios — ambientais, sociais e econômicos — que o desmatamento zero traria ao Brasil, como a redução de emissões de gases do efeito estufa, contribuindo com as metas climáticas, e a diminuição de doenças e mortes causadas pela poluição das queimadas.

“Existe todo um potencial econômico a ser explorado a partir da manutenção da floresta em pé, beneficiando as comunidades locais. Um projeto de desenvolvimento que fosse de fato para a Amazônia. Essas iniciativas existem, mas ainda não em grande escala”, explica a especialista em Amazônia do Greenpeace.

Além disso, os outros pontos do desmatamento zero destacados pelas organizações como positivos são: a queda de risco de mudanças climáticas e impactos na produção agropecuária; a abertura de novos mercados de commodities e manutenção daqueles mais exigentes; a redução do risco legal para empresas e produtores rurais; a diversificação de fontes de receita em florestas protegidas; a diminuição de concentração de renda e violência no campo; a queda do trabalho escravo; e a preservação dos direitos de povos tradicionais e indígenas.

  • A cobertura da COP 23 é uma parceria entre o Climate Journalism e oInstituto Clima e Sociedade (iCS) para incentivar a produção de jovens jornalistas sobre temas relacionados às mudanças climáticas e a mobilidade urbana. 
  • As jornalistas viajaram a convite das organizações.