“Produzir vinho à porta fechada acabou”
No mundo dos vinhos, um produtor pode guardar alguns segredos do seu negócio, mas tem de abrir as portas ao público para mostrar o que faz e como faz — é o que defende a Symington Family Estates (SFE). Paul Symington, presidente deste grupo familiar líder nas categorias especiais de vinho do Porto, concretiza: “Produzir vinho à porta fechada acabou. Temos de mostrar o que fazemos. Sabemos que o enoturismo é um palco único para as marcas.”
A aposta da SFE no enoturismo vai, assim, continuar depois do investimento de mais de €6 milhões feito nos últimos três anos entre o Pinhão e Gaia. Até à Páscoa do próximo ano, inaugura restaurantes nas Caves da Cockburn’s, em Gaia, e na Quinta do Bomfim, no Pinhão, que investiu €2,9 milhões para abrir um novo centro de visitas em 2015, recebe 30 mil pessoas por ano e foi a vencedora Global na categoria de Serviços de Enoturismo dos prémios Best of Wine Tourism 2017. Mas há novos projetos em estudo nesta área para aproveitar o potencial das 27 quintas do grupo no Douro.
“Reconhecemos a enorme importância do enoturismo. Os resultados têm superado as expectativas e, a isso, juntamos a parte não tangível da notoriedade”, justifica Paul, admitindo que a Quinta do Vesúvio, já na rota das viagens do histórico comboio presidencial ao Douro, é uma escolha possível para crescer neste segmento que rende €6 milhões ao grupo.
A Quinta Fonte Souto, como acaba de ser batizada a propriedade com 43 hectares de vinha comprada no Alentejo, no ano passado, também pode abrir portas ao enoturismo quando os primeiros vinhos feitos aqui, a 400 metros de altitude, no Parque Natural da Serra de São Mamede, chegarem ao mercado, em 2019.
A ditadura da qualidade
Mas enoturismo, na Symington, continuará a significar apenas visitas e provas. “As dormidas são outro campeonato. Nós somos uma empresa de vinhos”, garante Paul, à espera de receber mais de 100 mil turistas nas caves da SFE em Gaia: pela Graham’s, onde o grupo investiu €2 milhões, passam 55 mil pessoas. Na Cockburn’s, que absorveu €1,2 milhões na renovação do espaço, no ano passado, e passou a mostrar ao público os segredos da arte da tanoaria (na foto) são esperados 50 mil visitantes em 2018.
A confirmar a atenção dada ao vinho, Paul Symington fala da nova adega da Quinta do Ataíde, no Vale da Vilariça, dedicada aos vinhos DOC Douro da empresa, presente neste segmento com as marcas Altano, Quinta do Ataíde, Quinta do Vesúvio e P+S, este em parceria com Bruno Prats. Será um investimento na ordem dos €6 milhões, cuidadosamente preparado pela equipa de enologia liderada pelo seu primo Charles, que esteve esta semana a visitar adegas em Espanha para preparar o projeto.
No Douro, a família tem nove adegas e Paul sabe que “à primeira vista, esta multiplicação parece ser uma opção ineficaz, como diria qualquer consultor”, mas ele insiste na virtude da aposta “ditada pela qualidade”. A Symington tem duas adegas grandes, nas quintas do Sol e do Bomfim, onde vinifica as uvas que compra a mais de 1200 lavradores do Douro, e tem mais sete pequenas adegas para fazer os seus melhores vinhos, nas quintas mais importantes das marcas da empresa. “Se as uvas tivessem de ser transportadas durante duas horas, a temperaturas elevadas, durante a vindima, até uma adega central, a qualidade final, na garrafa, não seria a mesma”, explica.
“Os bons resultados só têm uma explicação: a aposta constante na qualidade”, diz Paul Symington. “No vinho do Porto, os dias do negócio assente em grandes volumes de vinho corrente estavam contados e nós soubemos ler esses sinais”, sublinha o presidente deste grupo que leva os seus rótulos até 100 países.
A marca deixada pela 4ª geração dos Symington na empresa fundada pelo bisavô de Paul, Andrew James Symington, “é a luta constante para subir a fasquia na qualidade e no valor”. É assim que a quota dos vinhos de categorias especiais como os Reserva, os Tawny, os LBV ou os Vintage nas vendas da SFE chegou aos 60%, com o valor deste segmento a crescer €10 milhões em cinco anos. Ao mesmo tempo, o investimento contínuo na terra tornou a família no maior proprietário de vinhas do Douro, deu-lhe “ancoras para os seus vinhos” com controlo total da vinha e de todas as decisões sobre poda, tratamentos, vindimas. Mais: por ano, sem contabilizar as aquisições que têm sido feitas, o grupo investe €5 milhões nos seus projetos, €1,5 milhões dos quais na renovação de vinhas.
Vintage na despedida
“É preciso ter coragem, arriscar, assumir uma visão de longo prazo. Não fomos os únicos a fazer isto, mas fomos mais longe do que os outros. Olhando para trás, sei que a aposta na terra foi uma das melhores coisas que fizemos”, afirma Paul Symington, já a preparar a passagem de testemunho no final do ano, quando fizer 65 anos.
A tradição na família ditava esta saída e Paul quis manter a regra. Para ele, é fundamental dar lugar aos novos, até porque a quinta geração já começou a entrar na Symington.
Deixa a presidência da SFE ao primo Johnny e a direção-executiva ao primo Rupert. Os principais desafios que o grupo tem agora pela frente são a inovação, a atenção aos mercados, a continuidade da componente familiar na viticultura e enologia e a qualidade, sintetiza.
E a hora é de festa. A SFE acaba de declarar 2016 ano de Porto Vintage para os vinhos produzidos nos lagares da Graham’s, Cockburn’s Dow’s, Warre’s e Quinta do Vesúvio.
egunda-feira, no lançamento oficial dos seus vintage, no coração do Douro, estará um primeiro grupo de 20 convidados. Seguem-se as apresentações nos Estados Unidos e em Londres. Depois, fica tudo nas mãos do mercado, mas a tradição mostra que os consumidores reconhecem a qualidade superior destes vinhos. “Um ano vintage tem reflexo positivo na notoriedade e nas vendas”, diz.
Um exemplo? Na última declaração de Porto Vintage, em 2011, quando o Dow’s da família foi considerado o melhor vinho do ano pela “Wine Spectator”, o preço da garrafa subiu duas vezes e meia comparativamente ao valor de lançamento. Já no conjunto da fileira do vinho do Porto, as vendas totais aumentaram €10 milhões.