Resort Cassino ou Cassino Resort?
Depois de dois dias participando das palestras do evento 3° Brazilian Gaming Congress, que aconteceu em São Paulo, de 20 a 22 de novembro, tenho a sensação de ter feito uma imersão no mundo dos jogos de azar. Foi, simplesmente, interessantíssimo! Entender como esse mercado se divide; quem são os players e a mentalidade dos profissionais foi de extrema importância para poder tentar desenhar o que será do jogo no Brasil, caso os projetos de Leis sejam aprovados. Atualmente, temos dois projetos: um, o PL 186-2014 de autoria do Senador Ciro Nogueira (PP) e, o segundo, o PL442-1991 tramitando no Congresso, de autoria do ex Deputado Renato Vianna-PMDB-SC, tendo como relator o Deputado Federal Guilherme Mussi-PP.
Entre os participantes do evento houve forte presença de empresas internacionais, tais como: MGM Resorts International, Ficom Leisure, Century Casinos, Gaming Standards Association, Spectrum Gaming Group, Pokerstars e Evolution Gaming. Participaram, também, Igor Federal, Presidente da Brazilian Federation of Texas Hold’E; Erwin Haitzmann, CEO, Century Casinos Europe Gmb; Nicolás Imschenetzky, Presidente da Marina del Sol; Fredrik Ekdahl, Diretor de Corporate Affairs da Pokerstars e Ed Bowers da MGM Resorts.
A indústria do jogo é perfeitamente globalizada, trata-se de empresas, em sua maioria, acostumadas a lidar em países estrangeiros e, têm perfeito conhecimento das legislações de cada país onde o jogo é relevante. Uma enciclopédia de informações baseada em experiência internacional com foco bem claro: fazer funcionar a indústria do jogo de forma correta e lutar contra o jogo clandestino que, é o principal concorrente. Portanto, podemos afirmar que a legalização do jogo vai criar um polo empresarial oposto ao jogo ilegal, ajudando, até mesmo, na fiscalização dos clandestinos.
A importância de uma Lei bem feita
Todos os profissionais estrangeiros foram unânimes: se o projeto de Lei não for bem feito, o mercado do jogo não vai funcionar e abrirá brechas para o lado ruim do jogo. O jogo de azar tem sim dois lados: um de lazer e diversão, junto com o lado profissional do jogo e competição esportiva; o outro, o vício. O lado escuro de um jogo que alimenta esperança de vitória para pessoas com pouco poder aquisitivo. Esse segundo aspecto se atenua muito reforçando o primeiro. Se o jogo for bem regulamentado, acessível e controlado pode ser um sucesso. Inúmeras vezes foram citados os exemplos de Macau e Singapura. O estudo minucioso das Leis no momento da introdução do jogo fez desses mercados dois dos mais importantes do mundo.
Divisor de Mercado
A maior questão é: quem presta serviço para quem?
Um grande número dos Resorts Brasileiros têm público de famílias e jovens casais em lua de mel. Para um público que busca férias de sonhos e lazer, o objetivo é concretizar um momento de experiências em um mundo chamado “resort”.
Por outro lado, vários gestores de cassino enxergam o resort como um suporte de quartos para jogadores, restaurantes e clubes onde os mesmos podem distrair-se.
Aqui nasce a pergunta: estaremos implementando resorts-cassinos ou cassinos-resorts? A escolha vai ser muito difícil para os resorts brasileiros que deverão escolher parceiros administradores de cassinos que sejam adequados ao perfil do empreendimento. Podem, resorts ou hotéis virarem estruturas 100% voltadas ao jogo? Sim. Com certeza! Mas mesmo assim, as pesquisas de mercado mostram que isso será possível unicamente em cidades como Rio de Janeiro ou São Paulo. Esse dilema não fecha as portas a oportunidades diferentes e, talvez menos lucrativas, como um resort de médio porte, temos, inclusive, uma fórmula concretizada com um certo sucesso no mercado chileno, como exemplo.
Os mercados dos cassinos
São vários os mercados internacionais de cassinos. Iniciando pelos Estados Unidos, França, Portugal, Itália e, mais recentemente, Singapura e Macau. Todos têm perfis diferentes. Em cada país tem exemplos de sucessos e de fracassos. Famoso insucesso é Atlantic City nos Estados unidos, onde por causa de uma profunda crise e inúmeras baixas, poderiam ficar abertos 8 cassinos e, com uma hotelaria precária, virou o caso perfeito a não ser seguido. Nessa cidade de 40 mil habitantes, talvez, o erro tenha sido “apostar tudo nas apostas”. Pessoalmente, gosto do modelo português, com cassinos de tamanhos razoáveis, alto controle do jogo com fiscais presentes de forma permanente nos cassinos. Os portugueses têm uma forte preocupação com a qualidade dos estabelecimentos, evitando que uma imagem negativa seja associada ao jogo de forma que possa afetar a população e para isso, focaram principalmente no público estrangeiro. Esse exemplo é interessante para o Brasil, provavelmente, mais do que o “modelo Las Vegas” do qual tanto se fala neste momento nos bastidores.
Roleta ou Pôquer? Vamos ficar de olho nos próximos episódios dos cassinos no Brasil!