De Londres ao Taj Mahal: uma rota de trem completa da Europa à Índia

viagem de trem

O silêncio da madrugada em Londres tem um som particular quando se está prestes a embarcar em uma viagem que atravessará continentes. Na estação de St Pancras, onde os primeiros raios de sol se infiltram pelos vitrais vitorianos, o Eurostar aguarda seus passageiros com um destino muito mais distante do que Paris – este é apenas o primeiro capítulo de uma epopeia ferroviária que terminará aos pés do Taj Mahal.

O ritmo europeu: dos cafés de Viena aos castelos da Transilvânia

Depois de cruzar o Canal da Mancha em pouco mais de duas horas – tempo suficiente para um café e um croissant servidos em porcelana -, Paris recebe os viajantes com seus bulevares iluminados. Mas esta não é uma viagem para se apressar. Reserve pelo menos dois dias para perder-se no labirinto de livros da Shakespeare & Company, onde Hemingway e Fitzgerald um dia buscaram inspiração, antes de embarcar no noturno para Munique.

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Shakespeare & Company || Foto de Dim 7 na Unsplash

Os Alpes surgem como um prelúdio dramático ao amanhecer, quando o trem começa a subir suavemente entre vales verdejantes e vilarejos com casinhas de madeira que parecem saídas de um conto dos irmãos Grimm. Em Viena, uma parada obrigatória: o Café Central, com seus candelabros de cristal e mesas de mármore, onde Trotsky e Freud debateram as grandes questões do século XX. Peça o famoso Wiener Melange – um capuccino à moda vienense – e deixe que o piano ao vivo marque o ritmo desta viagem no tempo.

À medida que o trem avança para leste, a paisagem se transforma. Na Hungria, os campos dourados de girassóis dão lugar às florestas densas dos Cárpatos romenos. Em Brașov, na Transilvânia, desça por uma noite para jantar na Casa Hirscher, um restaurante do século XV onde o sarmale (rolinhos de repolho recheados) é preparado seguindo receitas ancestrais. O trem noturno para Bucareste parte às 23h17 – escolha um compartimento com janela grande para ver a lua refletida nos lagos da Valáquia.

Istambul: onde os continentes se encontram

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Foto de Ibrahim Uzun na Unsplash

A chegada a Istambul é um espetáculo à parte. O trem desliza lentamente ao longo do Corno de Ouro, com as cúpulas e minaretes da cidade antiga surgindo em meio à névoa matinal. Aqui, onde a Europa e a Ásia se beijam através do Bósforo, reserve pelo menos quatro dias para explorar camadas de história.

Comece pelo Bazar das Especiarias ao amanhecer, quando os primeiros raios de sol iluminam montes de açafrão, pimenta da Síria e pistache em tons que desafiam a paleta de qualquer pintor. No final da tarde, quando os turistas já se foram, suba ao terraço do Seven Hills Restaurant para ver o pôr-do-sol banhar a Mesquita Azul e Santa Sofia em tons de âmbar.

Não deixe de experimentar o Marmaray, o trem que mergulha sob as águas do Bósforo em apenas quatro minutos – uma maravilha da engenharia moderna que conecta dois continentes. Do lado asiático, o bairro de Kadiköy oferece uma Istambul mais autêntica, com seus cafés vintage e lojas de discos que tocam jazz até tarde.

O Irã dos sentidos: uma tapeçaria de cores e sabores

trem pelo irã

O Expresso do Leste para Teerã parte apenas uma vez por semana, e embarcar nele é como entrar em uma cápsula do tempo. Os vagões transportam os passageiros através de paisagens que mudam radicalmente a cada cem quilômetros – dos picos nevados do norte aos desertos salgados do centro.

Em Isfahan, considere ficar três dias. Na Praça Naqsh-e Jahan, a segunda maior do mundo, observe como a luz do entardecer transforma os mosaicos da Mesquita do Xá em um caleidoscópio de azuis e dourados. À noite, siga o cheiro de churrasco até as ruas laterais, onde famílias locais fazem piqueniques sob as árvores centenárias, compartilhando pratos de fesenjan (ensopado de romã e nozes) com estranhos como se fossem velhos amigos.

A grande travessia: Paquistão e o caminho para a Índia

A fronteira entre Irã e Paquistão é onde a viagem se transforma em verdadeira aventura. O processo de imigração pode levar dias – tempo que se revela um presente inesperado. Nas vilas fronteiriças, conheça artesãos que ainda fabricam facas da mesma forma que seus ancestrais há mil anos, ou participe de um jogo improvisado de críquete com crianças locais.

Em Lahore, o Badshahi Mosque – uma das maiores do mundo – oferece uma vista emocionante da cidade a partir de seus minaretes. Mas o verdadeiro tesouro está nos becos ao redor do bazar, onde mestres ourives trabalham a prata em pequenas oficinas que não mudaram em séculos.

Lahore
Badshahi Mosque || Foto de Şafak na Unsplash

O último trem: Delhi ao Taj Mahal

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Taj Mahal || Foto de Sylwia Bartyzel na Unsplash

O Shatabdi Express para Agra parte às 6h15, e vale cada minuto de sono perdido. Enquanto o sol nasce sobre os campos do Punjab, servem chai em copinhos de barro – o sabor mais autêntico da Índia. Quando o Taj Mahal finalmente aparece entre a névoa matinal, depois de meses de jornada, você entenderá: algumas belezas só podem ser verdadeiramente apreciadas quando conquistadas lentamente, quilômetro após quilômetro.

Dica Final: Em Agra, evite as multidões indo ao Taj ao pôr-do-sol. Enquanto os últimos visitantes partem, sente-se nos jardins Mughal com uma xícara de masala chai e deixe que a quietude do momento – e a magnitude desta jornada – se revelem em silêncio. Afinal, como diz um provérbio persa, “a paciência é a chave da alegria” – e não há viagem que prove melhor esta verdade do que esta travessia lendária sobre trilhos.

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