Sabores da Bahia

Escrevo esta coluna no caminho de volta entre a pennsula de Mara, na Bahia, e minha casa em So Paulo. Foram perto de 12 horas de jornada. No que o lugar seja to longe –fica a 130 quilmetros ao norte de Ilhus, mais ou menos a meio caminho entre esta cidade e Salvador.

Mesmo com o afluxo crescente de turistas, a demora se d pelas dificuldades de acesso que ainda persistem, como quando estive l dez anos atrs.

A parte mais fcil tomar um avio de So Paulo at Ilhus (com os percalos habituais –trnsito, chegar cedo ao aeroporto etc.). Mas feita essa primeira parte, preciso ir de carro do aeroporto at a cidade de Camamu (a melhor opo; h outros caminhos ainda mais demorados). So duas horas de estrada, ao fim das quais se toma um barco para atravessar a baa formada pela pennsula.

Entre o trecho pelo rio Orojo at Barra Grande ou at o per de Taipu de Dentro, l se vai mais meia hora. E se o seu ponto final, como o meu, for a praia do outro lado, no mar aberto, coloque mais meia hora de estrada de terra.

Meu destino era a praia (e a pousada homnima) de Taipu de Fora. Em frente ao mar, ela ladeada por quilmetros de belas praias e coqueiros curvados pelo vento intenso. Sem falar de arrecifes, que formam piscinas naturais, ou das refrescantes lagoas de gua doce prximas ao mar.

Fui ali convidado para o Primeiro Festival de Arte e Gastronomia de Taipu de Fora, promovido no ltimo fim de semana pela pousada. Uma simptica iniciativa que reuniu escritores, artistas plsticos, msicos, chefs, participantes de mesas-redondas ao longo dos quatro dias de evento.

No tocante gastronomia, sobre cuja atividade me atenho, a deciso dos festival foi a de fazer refeies temticas, desde pratos tradicionais da chamada Costa do Dend at temas como “Bahia Francesa”. E todos os chefs seriam somente da pennsula de Mara.

Uma deciso ousada, mas de resultados discutveis. Nos painis de literatura havia convidados de vrios Estados; mas, nos almoos e jantares, apenas chefs locais, com grandes desafios como realizar fuses de comida baiana e italiana, por exemplo.

O resultado foi aqum do que seria se tambm na gastronomia tivessem sido chamados chefs de fora, de prestgio e experincia, como h tantos pelo Brasil.

Pode parecer uma viso colonialista da minha parte, mas estou certo de que, para os prprios profissionais da regio, seria muito enriquecedor acompanhar o processo criativo de chefs experientes trabalhando, ali, a fuso de seus conhecimentos com as lagostas, camares, lambretas do local.

Foi bonito, de toda forma, ver o esforo e envolvimento do chef da pousada, Gino Cesar, como anfitrio de seus colegas de restaurantes e pousadas locais.

Mas, depois de quatro dias provando diversos pratos com to diferentes propostas, o que no d para tirar da cabea (e da memria do palato) deste cronista so as tradies locais.

Representadas pela moqueca de lagosta (ainda que pudesse ser mais caudalosa), pela tapioca recheada do caf da manh, e especialmente pela deliciosa carne de sol acebolada com piro de leite. Isso sim, como ficou demonstrado pelo trabalho do chef local, no precisa chamar ningum de fora para fazer.