Souto de Moura vence Leão de Ouro de Veneza

Eduardo Souto de Moura vai receber ao final da manhã de hoje o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza, soube o Expresso. A notícia será oficialmente comunicada ainda esta manhã e consagra a obra de recuperação, restauro e transformação em unidade hoteleira de um conjunto de edifícios de um antigo Monte alentejano, em São Lourenço do Barrocal, em Monsaraz.

O Monte engloba uma área de 13 mil metros quadrados e inclui sete edifícios implantados ao longo de uma rua central, que definia dois conjuntos principais, um a Norte, outro a Sul. Aquele que é o primeiro hotel de cinco estrelas naquela região, surge na sequência da revitalização de uma antiga herdade com 780 hectares, e inclui 40 unidades de alojamento, 22 quartos, duas suites, uma casa com um quarto, 13 moradias com dois quartos e duas com três quartos. Todas dispõem de terraço privativo.

O hotel integra ainda um restaurante, aberto todos os dias, sala de reuniões e bar, todos localizados no edifício do antigo lagar de azeite. Há ainda um spa (com quatro salas de tratamento, uma sala de hidroterapia em banheira de cedro, estúdio para aulas e ginásio); além de um espaço para crianças.

Ao falar deste projeto, cujos interiores foram decorados por Anahory Almeida, Eduardo Souto Moura chegou a dizer que o que de imediato se destacou quando pela primeira vez chegou ao local, “foi o ambiente desta propriedade, que é muito difícil de encontrar. Toda a gente sabe que o Alentejo é muito bonito, mas não esperava encontrar uma herança histórica como esta”.

Um dos aspetos interessantes de todo este projeto assenta no facto de a propriedade não ter perdido o seu carater rural, ao ponto de ter sido decidido manter a produçãoo de gado bovino, azeite, vinho e aveia. Há também uma horta biológica, onde são cultivados legumes e frutas utilizados no restaurante. A adega produz os vinhos e existe mesmo uma a´rea destinada ao enoturismo.

Para Eduardo Souto Moura outros fatores se impuseram como surpreendentes, como ter água junto da propriedade, com a represa do Alqueva. O arquiteto destaca, também, as vistas sobre Monsaraz, “que são fantásticas”. Uma outra surpresa foi a natureza urbana do lugar. Foi encontrar, não apenas uma casa, mas “verdadeiramente um mini-universo, um povoado, com a sua própria hierarquia: uma rua, uma praça, armazéns, claustros. E é isto que raramente encontramos em tão boas condições”.

Para Souto Moura, “a única maneira de preservar o património é viver com ele e usá-lo, inclusive se está danificado em alguns lugares. Mas só a vida quotidiana o transforma em algo natural e dá sentido ao património”.