Turismo grego tenta se adaptar à austeridade

Marianthi Milona, de Tessalônica

Há duas semanas, o governo grego começou a implementar uma das medidas negociadas em Bruxelas: o aumento do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA). E a indústria do turismo, principal motor da economia nacional, vem sendo mais impactada do que qualquer outro setor.

Em pleno verão europeu, alta temporada de turismo, donos de restaurantes e hotéis tentam encontrar um meio de aplicar os novos impostos. Preços são negociados com agências de viagens e companhias aéreas meses antes, e turistas que já pagaram por suas férias ficariam relutantes em ter que desembolsar mais.

“Isso é muito ruim para a indústria do turismo, mas também para todo o país”, diz Giorgos Livanis, dono de um restaurante na costa de Tessalônica. “A longo prazo, nós não seremos mais capazes de competir com outros países mediterrâneos, como Turquia, Itália e Espanha”, onde o IVA é mais baixo que na Grécia.

Para evitar perder clientes, Giorgos decidiu manter os preços já programados para a atual temporada. A carga de impostos sobre a receita, porém, será de 23%, e não de 13% – o que significa que ele provavelmente vai ganhar menos dinheiro neste ano.

Mas Giorgos não é o único com esse problema. Em geral, muitos comerciantes gregos concordaram com o acordo alcançado em Bruxelas, mesmo que cada centavo de imposto mais alto arranhe a economia da Grécia. A surpresa, sobretudo para o setor turístico, foi a velocidade com que a medida foi implementada.

“Eu penso nas pessoas na cidade que precisam comprar tudo. Para nós, que vivemos no campo, é mais fácil”, afirma Maria Vassiliadou, de 50 anos, mãe de duas filhas de cerca de 20. Segundo ela, se vivesse na cidade, sua família não seria capaz de enfrentar os sucessivos aumentos no preço da comida.

“No campo, muita gente se prepara há bastante tempo para o período de dificuldade. Temos azeitonas e azeite, um pequeno barco para pescar e uma horta em que praticamente tudo cresce”, conta, enquanto admira seus pés de tomate.

Anna Karenou, proprietária de uma pousada na costa norte, também faz as suas contas. Ela não quer que o aumento do IVA afaste os turistas – apesar de, para ela, a medida só ser obrigatória a partir de outubro.

Anna sabe que não pode pedir mais que 70 euros por noite em uma pousada como a dela, de 14 acomodações modestas. Os turistas gregos já deixaram de vir, conta a pequena empresária, forçando-a a buscar alternativas.

“Se mantiver os velhos preços, eu terei que pagar a diferença pelo aumento dos impostos. Se eu aumentar o preço dos quartos, os visitantes vão pensar duas vezes antes de fazer uma reserva”, calcula.

Para negócios como o de Anna, o imposto aumentou de 6% para 13%: “Eu realmente não sei como lidar com isso. As reservas já foram confirmadas. Não tem como mudar neste ano”, afirma ela, que pensa em dividir com os turistas o custo do aumento das taxas.

Para Stavros Drivas, dono de um café na península da Calcídica, a situação é clara: “Eles podem fazer o que quiserem: nós não podemos funcionar apenas com números. É por isso que essas mudanças nos incomodam.”

Stavros trabalha no setor de turismo há mais de 30 anos. Ele decidiu manter os preços para bebidas não alcoólicas – 2 euros para uma taça de café, por exemplo. Sua ideia é adicionar o imposto de 23% apenas a vinhos e drinques, como uísque e vodca.

A única coisa que quer evitar, afirma o comerciante, é deixar os clientes desconfortáveis: “Aqui, nosso interesse é na relação humana e nas emoções.”

Uma vez, conta Stavros, um amigo alemão chamou sua atenção pode ele ter cobrando 5 centavos a menos de seu filho por um souvenir. “Ele me apontou o dedo e disse que era um erro. Mas nós lidamos de forma diferente com pequenas quantias de dinheiro aqui. Eu nunca iria pedir 5 centavos para um dos meninos dele.”

Sensibilidade na relação com outro é mais importante para Stavros do que dinheiro: “Nós fomos moldados por essa mentalidade. E é isso que confunde a Europa e é por isso que somos mal entendidos.”

Deutsche Welle