Turismo industrial é experiência inusitada na Grande São Paulo
Por Eduardo Vessoni, do site Viagem em Pauta
A gente custa a acreditar que aqueles amplos galpões de pisos bem pintados e ferramentas organizadas sejam ambientes de uma fábrica de caminhões. Nada de funcionários envoltos em graxa, nem martelos e parafusos espalhados ou estopas jogadas no chão.
Eduardo Vessoni
Lançado há dois anos e com dois mil visitantes desde sua inauguração, o turismo industrial de São Bernardo do Campo pretende colocar esse município do ABC paulista na lista dos destinos internacionais que têm o universo automobilístico como atração turística, a exemplo dos Estados Unidos e da bem estruturada Alemanha.
“Enquanto estância turística, São Bernardo e as outras cidades vizinhas já têm opções gastronômicas e ecológicas. Nosso foco agora é buscar nossa identidade industrial”, explica Fernando Bonisio, coordenador do programa de turismo industrial da prefeitura da cidade.
Berço da indústria automotiva do Brasil e considerada o maior parque fabril da América Latina, São Bernardo do Campo reúne onze empresas que abriram suas portas para o público interessado em conhecer a linha de produção e de montagem de fábricas da Scania, Volkswagen, Mercedes-Benz e GM.
Mensalmente, são 230 vagas disponíveis para visitas guiadas em dias estabelecidos pelas empresas, em uma das montadoras participantes do programa.
O turismo de carros e caminhões pode não ser a experiência mais lembrada na hora de sair de férias, mas, só para ter uma ideia, já há inscritos até julho de 2016. Por aquelas fábricas do ABC já passaram grupos da Melhor Idade, estudantes de engenharia de outros estados do Brasil e universitários da Universidade Tecnológica de Lima, no Peru.
Na Scania, empresa sueca que está na região há 57 anos, os visitantes realizam tours de uma hora, a bordo de carrinhos como os de golfe, munidos de audioguias que vão detalhando as etapas em quatro setores: motores, chassis, cabinas e transmissão (eixo e câmbio).
Eduardo Vessoni
A experiência, que o Viagem em Pauta conheceu no último mês, é como ser transportado, literalmente, para o mundo das fábricas de carros e caminhões que meninos (e por que não, meninas) sonhavam em conhecer quando crianças. O ritmo de trabalho segue igual, como em um dia normal de produção, mas os visitantes, com um certo sorriso no canto da boca, parecem tomados pela mesma sensação eufórica de quando visitavam fábricas de chocolate ou de sorvete, em excursões da escola.
Enquanto informações vão sendo transmitidas pelos fones de ouvido, chassis flutuam sobre nossas cabeças, em linhas aéreas que facilitam a montagem dos futuros automóveis que, em seis horas e quarenta minutos depois, sairão do outro lado da linha de produção, prontos para serem ligados no setor de testes.
Eduardo Vessoni
Pode ficar tranquilo, pois os níveis de ruído dessa fábrica são inferiores aos de um motorzinho de dentista e não causam a temida suadeira dos que se sentam na cadeira do consultório.
Outro destaque de uma das plantas de produção da Scania são os AGVs, como são conhecidos os veículos automáticos desenvolvidos na empresa e que fascinam os visitantes que têm seus caminhos cruzados por essa espécie de robô que transporta peças automotivas de uma linha de produção para outra.
Eduardo Vessoni
Mas o ponto máximo da visita é o test drive em que os turistas com habilitação de carro podem dirigir um caminhão automático, em uma pista curta de 300 metros, com direito inclusive a curvas, obstáculos e subidas leves em ladeiras.
Os pés tocam sem jeito o acelerador daquelas máquinas gigantes que a gente não está acostumado a conduzir, os braços parecem desaparecer diante daquele painel de dimensões exageradas e o cheiro dos assentos nos lembra da sensação de veículo recém produzido. Mas basta o caminhão começar a se mover para o visitante ter uma das experiências mais inusitadas de toda a visita (afinal de contas, qual foi a última vez que você teve a chance de assumir o volante de um caminhão?).
E no final, naquela espécie de parque de diversões para marmanjos, a gente nem se lembra que está em uma autêntica fábrica de caminhões, em plena quinta-feira de produção.
Wilson Magão/Divulgação
O que é ‘turismo industrial’?
A indústria do turismo está cada vez mais segmentada e, no Brasil, dá seus primeiros passos para oferecer aos turistas mais do que visitas soltas em museus e monumentos, como é o caso de São Bernardo.
O turismo industrial é uma visita monitorada a uma determinada empresa, onde os empreendedores abrem suas portas para receber grupos de pessoas interessadas em conhecer a estrutura das unidades produtivas, a forma de produção e a tecnologia empregada.
SAIBA MAIS
Turismo industrial em São Bernardo
As visitas são gratuitas e mensais, cujo calendário é disponibilizado pelas próprias empresas, semestralmente. Os interessados deverão entrar em contato pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (11) 4348-1000, ramais 1199 /2222.
Entre as empresas participantes, é possível visitar também a Emae, do ramo de usina hidrelétrica; a empresa química Basf; e a Wheaton, das áreas farmacêutica e cosmética.